sexta-feira, 1 de abril de 2011

(48) Punhal da traição...

“Experimentara já a lágrima da solidão, a dor da decepção, a alegria da ilusão... conhecera a felicidade e descobrira que era mentira… já mentira a si próprio, só para esconder uma lágrima teimosa que insistia em estar no seu rosto demonstrando toda a sua tristeza... Já fora feliz, mas tinha descoberto que desse sentimento ainda era um mero aprendiz...
- Há sempre momentos em que sei que erro, mas tento corrigir-me e aflijo-me quando não encontro nas pessoas o perdão...
Ela sorriu. Sabia que aquela confusão fazia parte da essência dele. E sem rodeios afagou-lhe o cabelo e em tom suave retorquiu:
- Perdoar, seguir em frente, entregar sem medos todos os teus sentimentos? Tu és assim, faz parte de ti e sempre assim serás meu querido. O que podes fazer é viver! Viver bem! Tu conheces como ninguém o arrependimento... Eu avisei-te muitas vezes...
Olhou-a fixamente nos olhos, pois sabia que podia fazer milhares de coisas e simplesmente elas não agradarem a todos ao seu redor... Passara noites tentando amar... Passara longos momentos, intensos instantes tentando mudar... Mas nunca conseguiu! Um pouco ao menos... Já sentira o calor de alguém que dizia que iria ser para sempre... Depois sentira o inverso, escrevera versos, chorara, fizera muito por muito pouco, conseguira libertar-se...
O olhar meigo dela impelia-o a continuar:
- Sei que toda a pessoa que ama é capaz de mostrar realmente o amor, confiança, amizade, carinho, lealdade, fidelidade, paixão, carisma. Eu poderia ficar aqui a enumerar muitas coisas importantes, mas são coisas básicas de que todo o ser humano necessita na sua vida, quando se gosta de alguém. E como amores não são comuns, eu também, não sou comum... Eu sei buscar, lutar, implorar, ajoelhar, chorar. Já amei, sorri, chorei, perdi até o amor-próprio...
Ela olhava-o com ternura porque sabia que há muito tempo ele tentava reconstruir esse seu amor-próprio, não apenas com o amor, mas com suor, lágrimas, para conseguir ter paredes fortes, janelas arejadas, onde a coragem de amar flui levemente…sempre. Tinha a certeza que ele sempre tentara fazer tudo o que podia.
Apoiou o queixo no punho direito e olhou-a, como se adivinhasse cada pensamento dela. Rodou o corpo dorido na cadeira e atirou:
- Não posso importar-me todos os dias com pessoas que realmente esqueceram o que é o amor e passaram a fazer coisas opostas…Traição é um punhal que eu não quero na minha mão.
Suavemente, ela puxou-o para si e num abraço sentido, aconchegou-o contra si depositando-lhe um beijo terno nos cabelos…”