sexta-feira, 19 de novembro de 2010

(43) Vontade...

“Naquela tarde, sentia uma indomável vontade de ir para algum lugar tranquilo e ficar por lá com a companhia de um livro. Qualquer que fosse. Mesmo que o pretexto fosse apenas fugir da sua própria cabeça. Sentia vontade de acordar numa manhã agradável, sentir o calor e a beleza de um raio de sol e vislumbrar esperança através de um ameaçador céu cinzento. Uma vontade inquietante de subir numa árvore bem alta e por lá ficar com os seus sonhos, bem mais altos que aquela árvore, enquanto ficava á espera de um pouco mais da vida.
- Mas a vida não é tão bondosa assim - pensou.
De facto não. Ela requer que lutemos, rastejemos por ela e imploremos felicidade. Mesmo assim, ele queria deixar a vida um pouco de lado. Manteria as suas vontades e teceria a sua própria felicidade.
Insistentemente esticou as pernas, bocejou, olhou os desenhos que as nuvens desenhavam sem querer e sorriu por não ter que pagar nada por isso. Sentiu a falta de uma mão amiga para segurar, um ombro para servir de apoio e ainda que não tivesse nada disso no momento, sabia que não tardaria a sentir essa protecção e liberdade. Mesmo sabendo que ninguém é de todo livre, nem de todo protegido. Mesmo sabendo que por mais que tivesse, necessitaria sempre de mais liberdade e protecção. Mesmo livre naquele momento, queria sentir por perto a presença dela...para olhar por si. Mesmo protegido, queria sentir o seu gosto, o seu cheiro...a despertarem os seus sentidos.”

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

(42) Destino...

“Saíra apressado… Tentava entender, a forma como o destino se apresentava. Como nunca - ou quase nunca - estamos cientes de quando fazemos uma 'escolha' que possa mudar a nossa vida. Um caminho que mude tudo. Enquanto caminhava sonambulamente, pelas ruas quase desertas, recordava-se de uma frase que o marcara e sempre o fizera pensar :
- ‘Não sei se cada um tem um destino ou se só flutuamos sem rumo, como numa brisa, mas acho que talvez sejam ambas as coisas. Talvez elas aconteçam ao mesmo tempo’ (Forrest Gump).
E na sua cabeça a dúvida de sempre:
- Todas as vezes que olhamos para alguma coisa, será que é a última vez que a veremos daquela forma? - cismava ele, acelerando o passo - ou nunca mais estará exactamente igual?
A noite caía e os seus pensamentos rodopiavam na possibilidade de ter algum poder para mudar o destino, sabendo que seria audácia demais para humanos tão pequenos. Interiormente respondia que sim. Essa falsa convicção que o fazia pensar que se não tivesse feito certas coisas, feito outras, se acertasse, ou simplesmente tivesse mudado os seus erros, tudo seria diferente. Não sabia. Mas tinha a impressão de que tudo estava escrito. E que essas escolhas eram meramente utópicas e teriam algo muito maior por trás.
Por muito tempo, pensou que a sua vida fosse tornar-se uma vida de verdade. Mas sempre havia um obstáculo no caminho, algo a ser ultrapassado antes de começar a viver. Um trabalho não terminado, uma conta a ser paga. Aí sim, a vida de verdade começaria…
Uma certeza ele tinha, sabia que teria que examinar as suas situações e os seus actos, e a assumir a responsabilidade consciente dos seus comportamentos e as consequências que eles provocam…”