terça-feira, 31 de janeiro de 2012

(51) Solitárias decisões...

“Sentia-se impotente ante a perspetiva das decisões que se avizinhavam e que para ele, faziam toda a diferença para a prossecução dos seus amplos objetivos há muito traçados. A verdade é que tinha que decidir e mais que isso, tinha que decidir sozinho. Sentado, com as mãos suportando o seu rosto, olhava a paleta de cores das chamas na lareira e o crepitar do fogo.

- Há circunstâncias na vida em que temos que abrir mão de muito daquilo que fazia sentido, das nossas verdades, do que considerávamos como sendo os nossos valores mais sublimes e os nossos anseios mais legítimos – tentava colocar ordem nas suas ideias. 
A verdade é que ele próprio constatava que esses valores se tornaram inúteis para o seu crescimento. Sentia que apesar de tão próximos já faziam parte do passado e a vida, não se delonga olhando para trás, antes, progride, em busca de novos eventos.
- Há momentos na vida que todas as traves mestras que afiançavam a nossa sustentação se demolem e a casa cai, independente da nossa implícita repulsa ou rejeição – afagou o rosto lentamente e com o seu dedo indicador, aproveitou para secar uma gotícula que se esvaía pelo canto do olho esquerdo.
Naquele momento sentia que a luminosidade da lareira não era suficiente para iluminar o seu caminho, pois até ele próprio continuava sem saber para onde ir e nada surgia que o conseguisse alegrar, motivar ou deslumbrar e, em compasso de espera, ia assistindo á segmentação das suas estruturas, agora metamorfoseadas em quimeras. Naqueles intempestivos momentos que têm o tempo de uma eternidade, ele sabia que ninguém poderia fazer nada por ele. 
- Estou definitivamente vazio e só, tendo que assumir o peso das minhas decisões – lamentou-se!
No meio deste torpor mental, tentava esmiuçar o que restara dos seus ideais e valores, enquanto remexia nos destroços na tentativa vã de desenterrar algo que ainda não tivesse morrido. E nesta ténue e frágil esperança, procurava uma pequena fagulha de esperança, esperando uma mudança do destino, que o surpreendesse com novas alegrias e com tantos outros destemperos.”