quarta-feira, 21 de agosto de 2013

(55) Distâncias Insuportáveis...

“Naquele instante lembrava-se dela. Aquela doce imagem de uma mulher bela e inocente cuja face não saía do seu pensamento. O seu coração no mais puro e silencioso momento ficava a sofrer, a sentir a imensa tortura que é a saudade. Este sentimento de desejo e encanto que o feria a cada instante de ausência. Belos e macios eram os seus lábios que persistiam no infinito dos seus sonhos.
Que falta lhe fazia o tocar do seu corpo, os seus carinhos, aquele olhar fascinante em que era eterna a chama do seu amor. A sua boca não encontraria palavras, nem um verso ou uma simples poesia poderia descrever a grande emoção. Os seus olhos ficariam em lágrimas quando dos seus lábios ela ouviria que além da morte o seu amor viveria, e num ultimo suspiro pediria um beijo e lhe diria que o seu amor poderia não ser imortal, mas que seria infinito enquanto durasse.
Mais uma vez debruçou-se sobre a face de um singelo papel, para com simples palavras escrever um pouco das suas histórias. É naqueles momentos que o silêncio toma conta do seu ser, e de repente, não mais que de repente faz uma resenha de tudo que juntos já passaram. Lembra-se do primeiro beijo, da sua melodia, momentos vividos em tantos lugares... Como era bom sentir o suave perfume do seu corpo, e saciar-se dos seus lábios insaciáveis e poder tocar a sua face. O seu cheiro no seu corpo revelava-lhe sentimentos de desejos infinitos. A cada dia a brisa matutina afagava-lhe os cabelos escassos como se fossem as suas mãos, e assim nesta dança de encanto, recordava-se dos seus cabelos, sempre ali, dando pequenas pausas, fazendo com que cada instante vivido fossem maravilhosos momentos. Bom mesmo era saber que tudo o que sentia por ela, era como a fênix que renasce das suas próprias cinzas. E era ai que percebia que o seu amor estava cada vez mais forte, e que podia ser visto a cada dia, nas infinitas chamas dos seus olhares... Ali se encontrava com o coração a pulsar, terminando um verso inacabável, e no pensamento apenas saudades dela…
-“Há distâncias insuportáveis…” 

sexta-feira, 8 de março de 2013

(54) Dia da Mulher...


BREVEMENTE NOS CINEMAS: 
“Dia Internacional da MULHER – A Grande Hipocrisia”

Nunca vi nada mais preconceituoso do que existir um dia especial para homenagear as MULHERES.
Sei que a data nasceu para homenagear as MULHERES que morreram queimadas numa fábrica de tecidos em Nova York, em 1857, quando entraram em greve ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 MULHERES morreram queimadas.
Se a nossa sociedade tipicamente machista, reserva um dia no ano para comemorar e reflectir sobre o papel da MULHER na nossa sociedade, de alguma forma, significa que em todos os outros dias do ano, essa discussão é esquecida.
Poderíamos reflectir de uma outra forma: “Se existe um DIA DA MULHER, poderemos concluir que muitas MULHERES ainda não conseguiram conquistar os direitos fundamentais. Significa que as MULHERES, assim como os Negros, ainda são minorias (não em quantidade, mas em acesso aos seus direitos fundamentais).”
O Dia Internacional das MULHERES esconde algo fundamental: “Esconde os milhares de MULHERES que sofrem; esconde as MULHERES que são excluídas de direitos mínimos em regimes ditatoriais como os que estão a ser “derrubados” no Médio Oriente. Este dia escamoteia a vida dura que muitas MULHERES/MÃES têm; esconde a história de MULHERES anarquistas que dedicaram as suas vidas por uma causa…”
A comemoração do Dia Internacional das MULHERES esconde por fim, a realidade nua e crua de que o planeta é ainda, não obstante as conquistas da MULHER, totalmente machista. A grande maioria dos que decidem o rumo do mundo, infelizmente, ainda são homens.
Ficarei feliz no dia que não precisarmos mais comemorar o Dia do Pai, o Dia da Mãe, o Dia do Trabalhador, o Dia dos Namorados ou o Dia das MULHERES. Não porque deixou de ser rentável para o Comércio, mas “APENAS” pelo facto de passarem a ser comemorados TODOS OS DIAS.
Vivam as MULHERES de verdade, que lutam pelos seus sonhos e combatem essa ideia ridícula de que a MULHER é propriedade... As MULHERES não precisam de um dia, elas precisam de amor e respeito…todos os dias. Data especial é coisa de minorias…em vias de extinção.

Esta é a minha opinião…aceito que possa estar errado !

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

(53) O primeiro dia...


“Ondulavam os corpos a cada curva da estrada e de soslaio olhavam-se com aquele ar cúmplice de quem está ansioso por chegar onde ninguém os conheça. Projectos, imensos projectos e a vontade de esquecerem o que ficou para trás. No peito aquele aperto que só as crianças sentem quando estão prestes a receber aquele presente que há tanto tempo esperam. 
Ele, sabia que a ansiedade dela não era menor que a sua e carinhosamente ia deixando deslizar a sua mão direita, até tocar ao de leve a perna dela, como se quisesse que ela prestasse atenção a mais um projecto que lhe ia na alma ou para mais um sonho que adiava há muito. Lá fora do carro a temperatura era agreste, própria do inicio de um mês de Março com sol envergonhado e tépido, mas dentro a temperatura há muito se fizera Agosto e as palavras cozinhavam-se lentamente para serem saboreadas em gostoso repasto de sonhos e vontades.
Agora já faltava pouco. Serpenteando atentamente por ruas estreitas e olhando minuciosamente cada cruzamento, tentava descobrir o restaurante onde a queria levar. Lá estava…em frente a estrada principal onde viajantes domingueiros circulavam lentamente aproveitando o sol em silêncio. O mar em fundo, contorcia-se em movimentos incessantes saboreando também ele os raios solarengos…
Agora comodamente sentados e alheios aos demais comensais, os olhares unidireccionais foram criando a certeza de que aquele era o dia e que aquela história seria escrita letra por letra, como as imensas dunas ali em frente, se compunham de minúsculos grãos de areia...e as mais belas canções que ouviram na viagem se compunham por pequenas notas... 
O almoço fora longo, mas o tempo agora não fazia sentido.
-“Para se viver de verdade, não é necessário fazer ou passar por grandes feitos, espectáculos ou grandes demonstrações. A vida é feita dos pequenos gestos, das pequenas atitudes. Um olhar, um sorriso, um abraço ou uma palavra, podem fazer toda a diferença” – a medo, tentava que ela entendesse que ele esperava um desses gestos.
Ela sorriu. Manteve sempre a sua pose altiva e sempre alinhada. Com a mão direita dava inicio ao seu ritual nervoso de enrolar uma pequena madeixa de cabelo, sem nunca perder o brilho do olhar e o sorriso que deixava a descoberto aqueles dentes alinhados e brancos. Parecia que de repente encontrara o seu lugar, sem lembranças, nem cicatrizes de guerra e precisava seguir adiante, na conquista de tesouros secretos.
-“É…são pequenos gestos que me fazem neste momento viajar, porque te tenho para compartilhar o pôr-do-sol ou uma noite sentados junto ao mar e poder fazer uma paragem na viagem para adormecer iluminada pelo luar” – sorriu, num misto de provocação e vontade de abandonar a mochila de lembranças que até há pouco a torturavam.
Para ele, este cenário idílico, fazia-o sonhar com o desejo de deixar de ser nómada e finalmente poder descansar e compartilhar os sonhos, as estrelas e beber um chá de lua cheia, de forma a apenas escutar um só ritmo cardíaco.
Agora, já no passadiço das dunas, com a aragem do Norte a fazer-se sentir, olhavam-se e sorriam sem pudor. Depois de tantas despedidas, sentiam que ambos tinham vindo para ficar e nas tardes de Inverno, num abraço, ficarem mais fortes para segurarem a árvore da vida. E cada rosto com que se cruzavam, lhes parecia familiar, inquisitório e condenatório e isso impedia-os de darem as mãos…caminhavam lado a lado, a uma distância de segurança porque os medos e preconceitos, esses não se evaporam com um sol tão envergonhado, nem congelam com temperatura tão amena…talvez um dia.
Este era apenas o primeiro…”

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

(52) A Escarpa...

"A seu lado, ela caminhava silenciosa, esboçando um misterioso sorriso enquanto desciam a custo a escarpa que dava acesso à praia. Curioso olhava a forma ágil como ela evitava os obstáculos da escarpa, do alto dos seus sapatos de salto generoso. Pretendiam assistir de perto aquele concerto instrumental, do marulhar das águas ainda sonâmbulas. 
A sinfonia das ondas chegava aos seus ouvidos como um sopro de liberdade. As ondas penetravam a areia e depois voltavam para o mesmo lugar, placidamente. Sentia-se parte das notas daquela sinfonia, esquecendo qualquer dor, qualquer saudade, qualquer amor...
Chegaram. Ela poisou os delicados pés na fina areia da praia; os sapatos vermelhos, com aquela rosa sobre o peito do pé ondulavam na sua mão, ao lado da sua sombra esculpida pelo sol ainda meio encoberto e desenhada na areia. Resolveram sentar-se para sentirem um maior contato com a Terra. Os finos e longos cabelos dela dançavam numa bela desarmonia, seguindo a vontade do vento. O sol tentava soltar-se das amarras das nuvens teimosas e os seus raios entrelaçavam-se nos cabelos rebeldes.
Silenciosamente olhava-a. Abriu os braços para o mar, sentiu os pés afundarem-se na areia molhada...
Um vastíssimo mar azul estava à sua frente.
Menina irrequieta, levantou-se e sulcando a areia ainda húmida da praia, percorreu silenciosamente aquele espaço que os separava da linha de água, onde as ondas se fragmentavam e as espumas chocavam com os rosados e frágeis dedos dos seus pequenos pés. Tudo era paz de espírito…
O vai e vem das ondas ia atirando pequenas conchas na areia. Sentia-se conquistado pela sua beleza. Uma conchinha porém chamava a sua atenção. Assustadoramente carismática e encantadora, despertava nele o desejo de levá-la para a mesinha da sua vida e fazê-lo sonhar, desejar, viver intensamente e acreditar como a imensidão do mar.
Deitados agora na areia, estrategicamente separados por uma distância de segurança, pensavam nas coisas que a vida em vão os fazia perder. Pensamentos que voavam e os levava ao infindo sem causa e mundos quiméricos. Pequenas viagens supersónicas ao centro do subconsciente em busca da razão da sua existência.
Silenciosamente sorria. E bastou uma palavra dela, para que ele deslizasse sobre a areia e repousasse a cabeça sobre o seu abdómen, enquanto de olhos fechados, sentia a sua respiração ofegante e a sua pele quente…
E perdidos na memória dos seus passos, foram deixando as ondas para trás. Ainda tinham que subir aquela escarpa…"