“Tentava sorrir com um ar forçado de compaixão a fim de jamais ferir aquele sorriso inconfundível. Muitas vezes não conseguira isso. Tentava segurar-se enquanto olhava os seus olhos que mesmo sem poderem falar uma só palavra, diziam tudo, toda a verdade omitida pela fala.
Será que todos pensavam que tinha as mesmas preocupações fúteis de uma sociedade falida? Pensava no indiferente, no acabado, no que faria, no que deixara de falar e no que gostaria de ter feito. Ofensas vindas de todo o lado que hoje o divertiam. Ligava, ligou, já não ligava…e não ligaria nunca mais. Quem se importaria? O que lhe importava? Importava tentar seguir em frente. A sua auto-destruição era a sua única luta, porque nunca jogava para perder.
Nunca foi o que sonhara. Nunca sonhara o que queria. Nunca fora bafejado por uma felicidade duradoura e verdadeira. Mas acreditava que nunca fizera questão de tentar. Mas uma certeza ele tinha, sempre tentou ter tudo o que nunca tivera. Pensou nos mais pequenos detalhes que não deram certo, os que agora estavam a dar certo e os que, futuramente, darão e não darão certo.
Gostava de coisas simples. Um sofá, uma televisão, uns papéis onde rabiscava umas frases e lia palavras bonitas. Gostava de pensar e realizar, querer e poder, sentir que era o que não era, para se satisfazer e realizar, escutar o que expressasse o que estava dentro de si, fazendo o que tinha vontade, escrevendo o que sentia por ela, sendo quem as pessoas não podem deixar pra trás, e acima de tudo amá-la infinitamente.
Reciprocidade de sentimentos bonitos. Olhava a lua, pensava e transmitia, ria, fazia rir, enquanto ia sentindo uma brisa de felicidade, ouvia uma música agitada e saía a dançar…ouvia agora uma música linda e chorava…ao lado dela.”