“Não ligo que me olhem da cabeça aos pés...porque nunca farão a minha cabeça e nunca chegarão aos meus pés”
(Bob Marley)
“Este era para ele o segredo das vencedoras. Daquelas que sentem os olhares que despem e permanecem imperturbáveis porque sabem que na sua cabeça tudo está compartimentado e nela apenas penetravam os ideais que ela definira como essenciais para a sua caminhada, rumo a um êxito que ambicionava.
A verdade, é que mesmo que o tempo e a vida lhe tenham pregado dolorosas partidas, bem patentes nas esporádicas manchas de tristeza no olhar e naquelas teimosas lágrimas, que o passado deixou vincadas e que por vezes tentavam abrir caminho, aquele sorriso não se desvanecia
E era nesta certeza absoluta de que o caminho estava traçado, que se sentia a segurança de quem caminhava com os seus próprios pés, indiferente aos que tropegamente se afoitavam em tentar desviá-la do seu rumo. Como se gostasse de agradecer pelas inúmeras vezes que a olhavam, as mesmas inúmeras vezes que ignorara esses olhares, porque mais do que sentir esses olhares, evocava a sua capacidade de se olhar devagar, já que nessa vida muita gente a olhara depressa demais
Fora Pontual, como sempre. Era uma característica inata. Sentada num frente a frente de troca de ideias e de factos da vida, resplandecia por trás da cor negra que integralmente vestia, numa apologia á classe que evidenciava em cada gesto, em cada sorriso, em cada palavra proferida e criteriosamente pensada. Não terá sido por acaso, pois o negro transmite introspecção, favorece a auto-análise e significa também dignidade, poder, sobriedade, hombridade, elegância. Tudo o que aquele olhar que sorria, conseguia transmitir, numa longa conversa de horas…
A sua organização mental reflectida no seu dia-a-dia, estava ali bem patente, imponente mas sóbria, protegida por aquela indumentária negra, sentada numa pose principesca pronta a escutar e a planear o futuro. No olhar a certeza de que o caminho obriga a ir à luta e em cada palavra escutada renascia um novo sonho, uma nova esperança, um novo plano. Pois sempre há coisas boas para pensar. Algumas realizar-se-ão…”