quarta-feira, 8 de setembro de 2010

(38) Enredo...

-“Gostava de partilhar contigo os meus pensamentos – dizia ele enquanto aconchegava o blusão fino - hoje tenho-me questionado muito, porque será que os sonhos não podem criar novos tempos? Porque será que a esperança não ilumina cada amanhecer? Porque será que a cada novo dia não podemos escrever uma nova história? A vida seria tão mais repleta de certezas...Não achas?
Com aquele olhar terno de sempre, ela sorriu como que tentando concordar:
- Mas, a vida é cheia de incertezas meu querido. E é isso que nos estimula a sonhar e a depositar as nossas esperanças no amanhã, sabendo que, o hoje é uma fonte inesgotável de possibilidades de ser feliz.
Em silêncio, digeriu aquelas sábias palavras que ela acabara de pronunciar, quase soletrando. Soergueu-se apaticamente no sofá e olhou através da janela. Lá fora os pássaros executavam um voo tranquilo, parecendo que tinham a certeza do que buscavam e onde encontrariam; começou a questionar-se sobre o que tinha e o que buscava...os pássaros perderam-se de vista, Ele perdia-se em pensamentos.Queria ter a certeza que estava realmente vivo e não morto. Parecia que uma cortina acabava de cobrir o sol, como se o espectáculo terminasse. Era assim, todos os finais de dia da sua actual vida.
- Achas que será possível erguer um pouco mais a cortina da minha vida e dar uma vista de olhos, para ver o que acontece por lá e qual é o filme que vai estrear?
Ela permanecia imóvel, atenta e sempre com aquele doce olhar fixo nos mais pequenos trejeitos faciais, que ele acentuava nas suas preocupações. Manteve-se em silêncio.
Para ele, não ter resposta para estas perguntas era torturante; Não saber qual o enredo do filme da sua vida era muito triste e doloroso. Olhou-a fixamente e sentiu o calor daquele olhar sincero de sempre.- Mas, então, o que devo fazer? Sentar-me e esperar tudo acontecer?Por momentos, ela perdera a serenidade e como uma mola saltou do sofá. De dedo indicador em riste foi desenhando no ar sinais de negação, enquanto dizia:
- Não! É necessário que tu mesmo cries o enredo do filme que queres para a tua vida e certamente voarás livre como os pássaros.
Fez-se um silêncio...com um gesto simples ele aquiesceu...e fechou os olhos...”

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